Subo as escadas e encaro a porta. Aquela velha incerteza se estou adentrando a vida certa essa noite. Jogo os sapatos de lado e caminho com passos miúdos à rotina que me escraviza. Tiro as peças de roupa pela casa afora. Desejando deixa-las cair por ali mesmo, sem esforços desnecessários. É o cansaço de querer ver sempre tudo em seu devido lugar.
Bato a porta contrariada com seu barulho que não combina em nada com a disposição do dia. Abro a torneira com aquele pequeno choque rotineiro do chuveiro. Deixo a água escorrer, escorrer, escorrer… As gotas quentes de água caírem e arderem a pele. Sinto-me uma esponja. Como se cada gotícula adentrasse meu tecido fino e lavasse meus medos, minhas saudades, as vontades reprimidas e impossíveis de se saciar nesta noite.
Sou uma pessoa carente, exagerada, compulsiva e errante… Sim, eu sou! Mas que culpa eu tenho se eu não sei viver só em mim? Se preciso me projetar além… Em novos romances, novas possibilidades, novas vidas… Me julgue, eu gosto é do novo! E não me envergonho de mim e da minha paixão do tamanho do mundo. Em meu peito cabem todos os sonhos e todas as vidas que penso em viver.
Me enrolo na toalha, protegida do mundo. Abraçando, em mim mesma, todos os sentimentos dessa noite de delírios. Deixo me cair em minha cama. Falling sempre foi uma palavra muito digna. Puxo as cobertas todas do mundo. Pra me esconder de mim e dos sonhos que já vem chegando sem avisar. Saudade de tudo que ainda não vivi e dos amores que me estão tão distantes.
Pois esta noite o que eu queria era estar em outro lugar. Uma dimensão paralela pra onde eu pudesse me tele transportar.
Paro as divagações e fecho os olhos, na esperança de um sono rápido e indolor. Um dia após o outro… Amanhã começa tudo de novo!
Para entrar no clima:
“Se eu deitasse aqui, se eu apenas me deitasse aqui
Você deitaria comigo
E apenas esqueceria do mundo?
Esqueça o que foi dito
Antes de virarmos velhos
Mostre-me um jardim
Que esteja ganhando vida”
(Snow Patrol – Chasing Cars)
O que há em mim é sobretudo um sonho | De dentro da Ostra
•6 anos ago
[…] Era o que eu respondia casualmente como se fosse verdade. De uma forma suave e doce a ponto de não parecer melancólica. […]