Hoje é um daqueles dias em que eu queria fumar um cigarro, tomar um whisky bom, enquanto escrevo meu silêncio. É nessas horas que me lembro que eu não fumo, e que também não tomo whisky. Para remediar, abro minha Heineken quase estupidamente gelada, um incenso de manjericão pra atrair proteção e um pouco de alegria, atiro ao longe toda peça de roupa que me prenda… Como se fosse o jeans o que me incomoda.
É a perfeição… A maldita perfeição que nos é exigida. Fingimos que não, mas a verdade é que temos que ser pessoas perfeitas, porque o imperfeito cansa, entedia, irrita. Precisamos ser perfeitos no trabalho, perfeitamente simpáticos, corpos perfeitos, a perfeita compreensão ao não discordar, opinar, ser você mesmo. E então sobra a frustração: Será que um dia seremos bons o bastante?
Talvez sejamos nós mesmos nossos maiores inimigos, cobrando perfeição ao invés de enxergar o quadro completo: o quanto evoluímos, o quanto temos bom faro, a garra, a recusa em desistir. O mundo externo é apenas um reflexo.
É preciso se lembrar a que veio: Quem você é pra você mesmo, quem você quer ser. A efemeridade de todo o resto. Talvez não há um amor que dure pra sempre. Talvez não há um só amigo que estará contigo em todos os momentos. Talvez esse não seja o trabalho em que você vá ficar o resto da vida. Talvez você nunca vá saber o que quer de verdade.
E na verdade, não há mal nenhum em não saber! Talvez a maioria daquelas pessoas que parecem saber de tudo, não faça a menor noção do que quer da vida. Talvez elas apenas finjam bem, e pareçam interessantes nos primeiros 30 minutos de conversa. Quanto tempo será que dura o seu interesse?
Já parou pra pensar se você se faz interessante? O que você tem a dizer? Pelo o que você briga? Não para parecer perfeito… para ser você mesmo, real e oficial, por trás da base cara e da pose de quem não desce do salto.
Eu nunca servi pra esse papel… Eu não sou dessas que tem medo de cair. Que tem vergonha de se mostrar ao mundo. O meu pudor é parecer convencional. “Eu não vim pra me explicar, eu vim pra confundir”. Eu vim pra mudar de ideia mesmo, pra me contradizer, pra pagar língua. E eu não tenho a menor vergonha disso, porque eu não tenho a menor intenção em ser perfeita.
Enxergo isso como evolução. Eu sei quem sou: um ser mutável!
“Lives in a dream
Waits at the window
Wearing a face that she keeps in a jar by the door
Who is it for?”
Eleanor Rigby – Beatles
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