“Há algo pra dizer sobre o copo meio cheio. Sobre saber quando dizer quando. Eu acho que é uma linha pontilhada, um barômetro de necessidade e desejo. Depende exclusivamente de cada individuo e depende em que é servido. Algumas vezes tudo o que queremos é provar, outras vezes não há aquela coisa de “suficiente”. O copo não tem fundo, e tudo que queremos… é ainda mais.”
(Meredith Grey – Grey’s Anatomy; Season 2; Episode 2)
Havia muito barulho na mesa, todos conversavam, riam e bebiam à vontade. Os copos se esvaziavam e se enchiam rapidamente, como se não houvesse todo um processo por traz disso. E realmente nunca houve. Esvaziar o copo é muito fácil!
Eu estava ali, em meio ao furacão, tentando descobrir quando é que ele iria me engolir. Olhava para o meu copo e parecia ler minha vida. Há algo sobre os copos… Sobre as bebidas e os processos… Eu ali, em meio ao furacão, tentava descobrir se o copo estava meio cheio ou meio vazio. O copo estava pela metade, disso não se podia duvidar.
Se o copo estivesse meio cheio, eu devia beber tudo de uma vez e acabar com esse excesso que me faltava. Esvaziar o copo de uma vez, antes que a metade cheia me enchesse por completo.
Mas se o copo estivesse meio vazio… Talvez eu devesse beber tudo de uma vez e acabar com essa falta pela metade. Esvaziar o copo… Pra não ter que conviver com partes de um todo, antes que a metade vazia me fizesse perceber que o copo já estava vazio.
Eu ali, perdida em meio as minhas divagações sobre o inteiramente vazio, o vazio pela metade, o cheio de vazio ou de metade… E os copos se esvaziando e se enchendo…
– Laís????
– anm?
– E então? Posso te servir?
Ele estava ali parado enquanto eu olhava meu copo meio alguma coisa e pensava se devia aceitar ou não. Ele era bonito, atencioso… O copo era meio vazio, meio cheio…
– Acho que por enquanto não… Você entende né?
Olhei em seus olhos e ele me sorriu, como se soubesse de todas as minhas dúvidas e que eram todas tolas. Como se soubesse que no fundo do copo, eu não sou metade boba, sou boba em minhas metades, nas metades dos inteiros que eu sinto. E realmente ele sabia!
Há uma grande verdade sobre o copo pela metade: ele não está completo. Na verdade, não interessa se o copo está meio cheio ou meio vazio. O que importa é que não é o suficiente. Tem algo sobrando, ou muito faltando, mas, simplesmente, não é satisfatório! Talvez seja melhor esvaziar o copo antes de enchê-lo com outra bebida, talvez seja melhor deixá-lo inteiramente vazio…
O copo pela metade não é o suficiente. Nunca é o suficiente! Porque sempre queremos um copo transbordando… de alguma coisa. Queremos sempre mais uma dose… de vinho, de paixão, de vida…
Se o copo está meio cheio ou meio vazio? Está totalmente vazio! Porque beber em doses homeopáticas não funciona! Não é o suficiente! E essa é a única verdade sobre os copos, as metades e os desejos.
“Mais uma dose?
É claro que eu estou a fim
A noite nunca tem fim
Por que que a gente é assim?”(Barão Vermelho – Porque a gente é assim)
Ao amor que não tivemos | De dentro da Ostra
•4 anos ago
[…] que eu sempre serei aquele capetinha dizendo que podemos nadar de noite. Que você pode tomar mais uma cerveja. Que a gente não precisa se alimentar bem todos os dias. Nem dormir uma longa noite de […]