As mulheres reclamam frequentemente sobre não terem seus esforços reconhecidos. Afinal, é uma “sorte” que seus filhos sejam tão calmos e educados, que seu marido a “ajude” em casa e na criação dos filhos, que possa lhe dar “vida boa”. E dá uma pequena frustração ouvir essas frases prontas, porque sabemos o trabalho que dá criar um filho, fazer com que ele entenda as noções de certo e errado, bom e mau, e se torne uma criança educada, uma pessoa de bem.
Sabemos também a luta diária e longa que é quase domesticar um homem, fazê-lo entender que não é papel apenas da mulher limpar a casa, lavar a louça e roupa, alimentá-lo e se tornar referência de razão e segurança ao filho. Fazê-lo entender que não, não iremos tirar-lhes os sapatos e cortar-lhes as unhas do pé. E aí chega a melhor parte, aquela em que consideramos que o marido lhe deu “vida boa”. Acho que quem diz isso nunca acompanhou uma mãe em casa, com 2 ou 3 filhos pequenos, todos querendo coisas, ao mesmo tempo em que ela precisa terminar o almoço na hora, tirar a roupa da máquina e impedir que as crianças se matem. É bonito pensar em uma “esposa do lar”, mas é preciso muito mais em respeito às verdadeiras mães de família que ficam em casa e dão conta de tudo, sozinhas.
O que sempre tento falar sobre as mulheres é isso: respeito e luta. Os homens continuarão a ganhar confetes por tudo o que fazem, e, a meu ver, essa não é a briga! A briga é entendermos que, desde que nascemos mulheres, teremos que bater e fincar os pés no chão, defender nossas convicções e direitos, e exigir, EXIGIR respeito. (Sobre o que será que Marcela Temer briga?).
E aqui vai um ponto importante e um apelo que faço às próprias mulheres: defender e exigir respeito não só por nós, mas umas pelas outras.
Acabou o “ela é uma vagabunda, fica com todo mundo”, o “mas também, olha como ela se veste”, o “aposto que provocou”, o “mulher tem que se dar ao respeito”. Inclusive, mulher tem sim que se dar ‘O’ respeito. Tomá-lo à força. Porque, infelizmente, na sociedade patriarcal e machista em que vivemos, ele não nos é dado de graça, como deveria. Mas engana-se quem acha que, para nos darmos ‘o’ respeito, teremos que nos vestir comportadamente de azul claro, não frequentarmos bares e boates, não darmos liberdade a nosso corpo e nossas vontades, não nos rebelarmos contra os desmandos da sociedade e seja de quem for.
Para nos darmos ‘o’ respeito, nós mulheres temos que lutar diariamente. Temos que parar de engolir sapos. Parar de abaixar a cabeça. Para de julgar umas às outras. Temos que provocar discussão. Temos que forçar que a questão da mulher seja ouvida, pensada, discutida e entendida. Temos que brigar para que fique claro, de uma vez por todas, o quanto estamos sendo violentadas diariamente, física, psicológica e emocionalmente. E que isso tem que parar! Agora! A gente tem que falar alto às vezes, mas se a gente fizer 2 ou 3 pessoas entenderem o sentido, já vivemos em um mundo melhor.
E embora meu discurso não seja belo, recatado e do lar, não julgo Marcela Temer, luto por ela também. Ela tem o direito de ser a esposa assistencialista de um presidente. A mulher tem o direito de ser o que ela quiser! A única coisa que quero dizer é que este papel não me cabe, e que eu jamais irei permitir que me seja imposto novamente. Eu irei me envergonhar de ver o Brasil retroceder e exaltar novamente que a mulher seja um bibelô em casa, às custas do seu homem. E eu irei lutar em dobro contra essa apelativa e manipuladora salva de palmas que nos fazem engolir goela abaixo.
Não sou Marcela Temer. Não sou bela, recatada e do lar. Não me visto de azul claro ou ando de carro blindado. Não sou aplaudida por uma plateia de homens. Não posso trabalhar de graça. Então senta aqui, precisamos falar sobre não sê-la!
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