O que há em mim é sobretudo
um sonho
– Onde você está?
Ele passava as mãos em meus cabelos suavemente e apenas me deixava respirar ali, deitada em seu colo sem dizer nada.
“Eu estou em mim”! Era o que eu queria dizer pra dizer a verdade. Mas não há como explicar o que quer dizer este lugar, e por mais que ele quisesse entender, não iria.
– Aqui! – Eu respondia.
Se ele apenas soubesse que mesmo longe o seu colo me puxava e me trazia pra perto… Se ele soubesse que era uma forma de me manter sã… Ali eu me sentia protegida. Enquanto minha mente continuava tentando me arrastar pro meu buraco emocional.
– Me conte como foi o seu dia!
Essa sempre foi minha forma de desviar a atenção. Você me conta sobre qualquer coisa e ouço entusiasmada enquanto espanto pensamentos de quão perdida estou. Uma troca justa, não?
E então, por alguns minutos eu estou ali, sorrindo e acenando para suas maravilhosas descobertas e pensando em como eu queria estar tão motivada assim. Tão empolgada, tão feliz… Pensando em como eu queria tão desesperadamente sentir… Qualquer coisa… Qualquer coisa grande.
Ele contava os feitos como quem contava estrelas, com os olhos brilhando e me atirando faíscas. Aquela coisa bonita de quem se encontrou na vida. E mesmo que eu não ouvisse uma só palavra que ele dizia, sua voz era o meu encontro. A minha faísca. E eu sorria e vibrava junto, navegando em seus olhos ao invés de naufragar em meus pensamentos.
Será que eu poderia ficar ali pra sempre? Será que ele poderia me emprestar um pouco dessa paixão?
Ele deixava o silêncio por um instante como se me esperasse reagir. Passava as mãos em meus cabelos, me beijava a testa.
– No que você está pensando afinal?
– Em nada.
Era o que eu respondia casualmente como se fosse verdade. De uma forma suave e doce a ponto de não parecer melancólica.
– Vocês não têm isso, de não pensar em nada!
Ele me dizia, lembrando dos homens com suas caixas do “nada” e as mulheres com seus fios emaranhados de ideias.
Era bem isso, na verdade. Estava pensando em um monte de coisas tão rápidas, diferentes e furiosas, que era como se pensasse em tudo e nada ao mesmo tempo. O que significava nada!
– E então? Me conta?!
Ele insistia enquanto respirava junto ao meu cangote, no arrepiar intimidador da minha pele, no acelerar do meu compasso apaixonado e brevemente feliz. Breve. Até que eu parasse de sentir e tivesse finalmente a resposta que ele queria ouvir.
– Estou pensando em como eu queria que você estivesse aqui!
Puxei o travesseiro mais forte, apaguei a luz e fui dormir.
“Seus olhos procuram conclusão em toda a minha confusão
Embora eu e você saibamos
que é apenas o brilho quente do vinho que faz você se sentir assim
Mas eu não me importo
Eu quero que você fique
Apenas me abrace e me diga
que estará aqui pra me amar hoje”
(Norah Jones – Be here to love me)
Sem comentários