Sobre ir embora
Há exatamente 3 anos, eu juntava umas coisas necessárias e meio aleatórias e jogava numa mala. Disfarçava o nó na garganta de um rompimento tão brusco e que transformaria minha vida de um jeito grande. Eu tinha tanta noção dessa grandeza que era um misto sufocante de alegria e medo.
Há exatos 3 anos eu ia embora. No dia do aniversário da minha mãe. Deixando um buraco no que devia ser uma comemoração e levando vários buracos comigo. Eu nunca vou me esquecer a data, porque acho que eu nunca me perdoei por ter sido esta.
Eu segurei o choro no ônibus durante todo o trajeto e eu nunca contei pra ninguém. Eu nunca achei que seria lindo ir embora e deixar pra trás tudo aquilo que me fazia tão segura. Mas eu sabia que aquilo era necessário desde que me entendo por gente.
Eu fiz desta cidade o meu lar. E eu ando por estas ruas como se elas me pertencessem a vida inteira. E desde então a minha vida nunca parou de mudar! O mundo passou a girar mais rápido do que eu poderia imaginar. Me deixa enjoada às vezes. E aí eu tenho que lutar bravamente pra conseguir me equilibrar em meus pés, sonhos e ideais.
Eu me tornei uma mulher diferente tantas vezes, que às vezes não sei qual delas estou sendo no momento. Às vezes mal sei quem sou. E então eu me divirto com meus personagens tão convincentes ao resto da humanidade.
Aprendi a levantar pronta pra briga, sem me perguntar se irei bater ou apanhar. Aprendi a não ter medo da solidão. Demorou muito tempo, mas aprendi a dormir na viagem. Antes eu tomava decisões de vida ou morte e divagava, sozinha, sobre qual era a razão de tudo.
Acho que nunca vou aprender a partir sem a sensação de deixar um pedaço de mim. Daqui pra lá. De lá pra cá. É sempre deixar seu lar. E isso não muda.
Eu me achava tão madura… Até perceber que eu era tão tola… Que só agora eu sou uma mulher inteira, de pedacinhos colados que vez ou outra caem de novo. Mas eu aprendi a botar super bonder em tudo e ser feliz. Em colar o sorriso no rosto e me divertir até com o que dói o peito.
No fim das contas, a gente nunca termina de crescer…
São poucos os que conhecem meu coração. Quem dirá os que conhecem meus medos… Dos que conhecem meus porres, já não posso dizer o mesmo. É a parte que lhes cabe em minha vida. A parte das pessoas comuns que ainda não me mostraram se vale a pena ficar. Mas elas são legais… Por um tempo, como tudo na vida.
Ir embora pode parecer triste às vezes… Mas quando você olha pra trás… Caramba… Quando você olha pra trás você percebe o grande, incomensurável e desafiador universo que você criou, do pó. Do caco de gente que você era antes. Vivendo num mundo estranho.
Todo dia é uma benção. Todo dia você constrói um castelo, uma casa de pedras… Pra você e pra quem quiser chegar. Porque demorou um tempo, mas você deixa as portas abertas agora… (Ou talvez uma janela.)
Tem roupa pra lavar, tem casa pra arrumar. Tem pouco tempo e muito sono. Tem muito sonho e pouca grana pra realizar. Mas tem música boa tocando e tem cerveja especial na geladeira. Tem os melhores amigos do mundo, que estão espalhados pelo mundo e mesmo assim conseguem ser os melhores. Tem o prazer de recebê-los em casa e de ver que eles sentem como se ali fosse o lugar deles também. Tem empadinha esperando a sua volta. Tem churrasco de família e tem você curtindo até aquele sertanejo brega que ninguém devia ouvir. Tem sorriso de pai e mãe. Tem abraço de pai e mãe. Cara, tem pai e mãe…
E tem saber, ver e sentir, que não importa o quanto você esteja distante e desnaturada, não importa o quanto seja foda, o quanto às vezes ninguém goste da decisão que você tomou… Você sempre terá para onde voltar. E você tem a compreensão e o orgulho daqueles que ama. Há exatamente 3 anos… isso não tem preço!
Pra falar de 2016… | De dentro da Ostra
•4 anos ago
[…] eu quis voltar pra casa, mas eu respirei… respirei… não admiti e não pedi arrego. Essa é uma promessa que eu […]