Você gosta mesmo é do meu cheiro
Espirrei meu perfume em um papel cartão. Porque você disse que gosta dele. Pensei no que escrever e não consegui. Resolvi te entregar em branco.
Eu poderia forçar a poesia e dizer que é como a nossa história que ainda não foi escrita. Só que a nossa história já tem história demais, mesmo que nem uma palavra seja dita.
Talvez por isso eu precise tanto das palavras.
Pra que eu saiba como termina.
Acho que o perfume vai evaporar e o cartão será só uma intenção sem efeito. Como o amor não realizado: por mais bem planejado, não preenche o vazio do peito.
Você também gostava do meu perfume anterior. Ou talvez o que você goste mesmo é do meu cheiro.
O cheiro que meu perfume tem na minha pele. O cheiro do meu cangote no seu abraço. O cheiro do meu carinho que te aconchega o compasso. O cheiro do meu afago.
Você me perguntava que perfume era, enquanto eu, por capricho, dizia “segredo”.
O meu cheiro é meu. E te dizer qual, era permitir que ele saísse de mim e tomasse vida própria. Podendo se aliar a outra, sem o menor significado de mim.
Eu sempre odiei pensar que você pudesse presentear alguém com o meu cheiro. Que você pudesse me tirar dele. Que eu deixasse de existir.
Eu sempre amei pensar que essa é uma marca que eu deixei em você. O meu perfume que você gosta. O meu perfume sem nome. O meu perfume em mim.
E quando você sentir esse cheiro no mundo, ele vai me levar até você. Ele vai te lembrar do que a gente viveu. E de um jeito torto a gente vai se pertencer.
Meu cheiro vai te lembrar da primeira vez que você me disse “que perfume bom”. E que talvez a nossa história tenha começado ali. Na sua despretensão em me abrir portas que nem você sabia que estava abrindo. Enquanto a minha vontade era deitar no seu ombro e segurar a sua mão. Fazer do meu cheiro, seu. E viver o mundo de coisa que a gente viveu.
P.s: Desculpe o gif, não resisti. 😛
“I have a secret I want to tell you
Each time that I close my eyes I can feel you
I ran away with my imagination
And I am blinded by your light that’s filling up the room”
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